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O segundo nome do Naturalismo brasileiro é o de Adolfo Caminha (1867-1897). Este oficial da Marinha, cuja vida já é por si um original e dramático romance, faz parte de um numeroso e importante grupo de intelectuais, reunidos em Fortaleza, em torno da Padaria Espiritual.
Ele escreve, em sua breve existência ceifada pela tuberculose, três narrativas: A normalista (1893), Bom-Crioulo (1895), e Tentação (1896).
A melhor delas, Bom-Crioulo, guarda uma surpreendente força, que vem tanto da concepção naturalista de seres humanos dominados pela força lúbrica dos instintos, quanto do caráter sombrio do personagem principal. Amaro, o Bom-Crioulo, é um jovem escravo fugido que se alista como marujo e impressiona a todos por sua extraordinária massa muscular, além de sua simpatia e disposição para o trabalho.
Fracasso sexuais com mulheres, - e sobretudo impulsos fisiológicos incontroláveis - levam-no a apaixonar-se por Aleixo, um jovem grumete loiro de apenas quinze anos. Este aceita o assédio de Amaro e quando estão em terra vivem juntos num quartinho sórdido de uma casa de cômodos.
Enlouquecido de paixão, o Bom-Crioulo torna-se péssimo marinheiro, mete-se em confusões e é transferido para outro navio. Seu amante adolescente, então, aceita a proposta amorosa da dona da casa de pensão que, apesar de quarentona, também o deseja ardentemente. Ao descobrir a traição, Bom-Crioulo foge do hospital, onde convalescia de um castigo físico, ordenado pelo ofical de sua embarcação, e assassina Aleixo em plena rua, sendo preso de imediato.
O romance experimental, onde Zola teorizou e indicou o caminho do Naturalismo a centenas de escritores no mundo inteiro, foi um dos grandes sucessos editoriais da época. Se somarmos a morbidez do amor homossexual de Amaro, seus ciúmes, seu tormento íntimo e seus ímpetos criminosos à descrição precisa da vida no mar, às cenas terríveis de sadismo dos oficiais da Marinha de Guerra do Brasil, mandando os marujos para a chibata, teremos em o Bom-Crioulo, o romance de atmosfera mais sufocante e opressiva do século XIX, no país. A exemplo da morte precoce de Raul Pompéia, a de Adolfo Caminha interrompe uma carreira que parecia destinada à grandeza.
Entre os demais autores de tendências naturalistas, destaca-se o paraense Inglês de Souza (1853-1918), com Cacaulista (1876), O coronel sangrado (1877), e O missionário (1888), este último centrado na quebra da castidade de um padre que vive no mundo amazônico. Seus romances são bastante vigorosos, em especial os dois primeiros, e permanecem à espera de uma real valorização em nossas letras.
Sobressai-se também o escritor mineiro Júlio Ribeiro (1845-1890), com enorme repercussão em sua época (e mesmo nas décadas subsequentes), porque seu romance A carne (1888), escandaliza o país e enlouquece gerações de adolescentes com um erotismo escancarado. Hoje A carne constitui-se em obra risível, seja pela mediocridade literária, seja pela descrição pormenorizada, brega e pedante da sexualidade humana.
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