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Literatura Brasilera

AUTORES PRÉ-MODERNISTAS
 
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1. EUCLIDES DA CUNHA
VIDA: Nasceu no estado do Rio de Janeiro e freqüentou a Escola Militar, de onde seria expulso ainda como cadete por afrontar o ministro da Guerra do Império. Proclamada a República, voltou ao Exército, formando-se em engenharia. Por problemas políticos e pessoais, acabou se desligando voluntariamente da força militar. Em 1897 é enviado por O Estado de São Paulo a Canudos, como correspondente de guerra, tendo assistido à derrota dos sertanejos. Durante quatro anos escreveria um documento amargurado sobre o conflito: Os sertões, que viria à luz em 1902. Alguns anos depois - em plena glória pública e literária - foi assassinado por questões de honra.

OBRAS PRNCIPAIS: Os sertões (1902), Contrastes e confrontos (1907), À margem da história (1909)
Antes de acompanhar a quarta e última expedição das Forças Armadas contra os rebeldes de Canudos - vistos até ali como monarquistas ferozes, desejosos de minar as bases republicanas através de uma ação restauradora - Euclides da Cunha escreve um veemente artigo: A nossa Vendéia. Nele, compara os fanáticos de Antônio Conselheiro aos camponeses reacionários que, sob o comando de aristocratas, procuraram destruir a República francesa, logo após a Revolução.
O artigo traduzia a opinião geral da população litorânea a respeito dos acontecimentos. E é preparado para se deparar com esta horda anti-republicana que Euclides parte para o sertão baiano. Seus artigos jornalísticos, escritos no calor da hora, ainda traduzem tal perspectiva. Porém, ao retornar para o núcleo de poder do país - após a vitória do Exército - suas certezas começam a se desfazer.
Escrever Os sertões passa a ser uma necessidade vital de compreensão da guerra. Mais ainda, de compreensão do país que possibilitara a eclosão de evento tão terrível. Perseguido pelas imagens do confronto, atormentado pela busca de uma explicação racional para o mesmo, ele passará vários anos produzindo a obra que mudaria para sempre a visão que os brasileiros tinham de si mesmos, como povo e como nação.
 
A base científica
Espírito científico, tenta dar base sólida para o que observara. Estuda Geografia, Botânica, Geologia, Psicologia, Sociologia, etc. Obviamente as fontes disponíveis são todas européias, e com elas acredita estar explicando a existência física, social e humana do sertão brasileiro. Alguns destes princípios teóricos têm fundamento, outros no entanto pertencem ao que se chama ideologia do colonialismo, ou seja, ao conjunto de representações e pensamentos desenvolvidos na Europa imperialista das últimas décadas do século XIX. A visão cientificista, assumida por Euclides, poderia ser esquematizada assim:
DETERMINISMO
Geográfico:
- o homem como produto do meio natural. - o papel preponderante do clima na formação do meio. - a impossibilidade civilizatória em zonas tórridas, como o sertão.
Racial:
- os cruzamentos raciais enfraquecem a espécie. - a miscigenação conduz os homens à bestialidade e a toda espécie de impulsos criminosos. - o sertanejo é o caso típico de hibridismo racial.
Histórico:
- uma cultura como a sertaneja que, por ausência de contato com a civilização litorânea, não reproduz o progresso, permanecerá historicamente atrasada, tendendo a "anomalias", a exemplo de Canudos.
Ao fundamentar-se nesses postulados, o autor envolveu o seu texto numa contradição: as observações pessoais são justas e brilhantes; as teorias, nem sempre. Nelson Werneck Sodré explicita a ambigüidade:
Existe em Euclides da Cunha um dualismo singular: enquanto observa, testemunha, assiste, conhece por si mesmo, tem uma veracidade, uma importância, uma profundidade e uma grandeza insuperáveis; enquanto transmite a ciência alheia, ainda sobre o que ele mesmo viu, conheceu, descai para o teorismo vazio, para a digressão subjetiva, para a ênfase científica, para a tese desprovida de demonstração.
Dentro do esquema determinista e positivista, a obra se divide em três partes, delimitadas com rigor:

A terra - O homem - A luta
Na primeira parte temos a visão cientificista do Naturalismo: o meio geográfico opressor, com sua vegetação pobre, o chão calcinado, a imobilidade e repetição da paisagem árida. Na segunda, a questão racial avulta, interpenetrando-se com influências mesológicas. Aí, a duplicidade de Euclides manifesta-se diretamente. Existe o sertanejo "sub-raça":
O sertanejo do Norte é, inegavelmente, o tipo de uma subcategoria étnica já constituída.(...) De sorte que o mestiço - traço de união entre as raças, breve existência individual em que se comprimem esforços seculares - é quase sempre um desequilibrado. (...) E o mestiço - mulato, mameluco ou cafuzo - menos que um intermediário, é um decaído, sem a energia física dos ascendentes selvagens, sem a altitude intelectual dos ancestrais superiores.
Este ser "degenerescido", cuja psicologia era determinada por elementos geográficos e biológicos, produziria um líder que seria a síntese de toda a "deformação" do mundo camponês nordestino: Antônio Conselheiro. "A sua biografia - escreve Euclides - compendia e resume a existência da sociedade sertaneja". É o caráter de personagem-símbolo que se destaca na interpretação do chefe dos fanáticos:
Todas as crenças ingênuas, do fetichismo bárbaro às aberrações católicas, todas as tendências impulsivas das raças inferiores, livremente exercidas na indisciplina da vida sertaneja se condensaram no seu misticismo feroz e extravagante. Ele foi, simultaneamente, o elemento ativo e passivo da agitação que surgiu.
Mas, às teses colonialistas de Gumplowitcz (a maior fonte teórica de Os sertões) e outros, sobrepunham-se as imagens recolhidas in loco, na zona deflagrada. E as imagens eram mais densas que a explicação "científica" posterior. O sertanejo é visto como um titã:
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempenho, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.(...) É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealade típica dos fracos.(...)
Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude.
Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, (...) e da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta inesperadamente o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.

A luta
Finalmente, a terceira e mais importante parte da obra é A luta. O conflito entre a sociedade arcaica e a urbana já não surge como uma guerra entre monarquistas e republicanos. Euclides da Cunha sabe estar contemplando uma autêntica guerra civil. E descreve-a sombriamente. Não esconde a comoção diante da guerrilha sertaneja e das sucessivas derrotas que ela impõem às tropas oficiais, diante dos banhos de sangue diários, do grito de guerra dos jagunços: "Avança, fraqueza do governo!"; e diante das rezas e cânticos que emergem do arraial, daquela "Tróia de taipa", ao anoitecer, quando todo o alto comando julgava Canudos já sem resistência. A violência desse genocídio é quase insuportável:
Os novos combatentes imaginaram-na (a guerra) extinta antes de chegarem a Canudos. Tudo o indicava. Por fim os próprios prisioneiros que chegavam e eram os primeiros que apareciam. Notou-se apenas, sem que se explicasse a singularidade, que entre eles não surgia um único homem feito. Os vencidos, varonilmente ladeados de escoltas, eram fragílimos; meia dúzia de mulheres tendo ao colo crianças engelhadas como fetos, seguidas dos filhos maiores, de seis a dez anos.(...)
Um dos pequenos - franzino e cambaleante - trazia à cabeça, ocultando-a inteiramente porque descia até os ombros, um velho quepe reiúno, apanhado no caminho. O quepe largo e grande demais oscilava grotescamente a cada passo sobre o busto esmurrado que ele encobria por um terço. E alguns espectadores tiveram a coragem singular de rir. A criança alçou o rosto, procurando vê-los. O riso extinguiu-se: a boca era uma chaga aberta de lado a lado por um tiro.
No desenvolvimento de A luta - a narração acompanha as quatro expedições punitivas até o grande massacre final - vai se avolumando uma denúncia apaixonada contra a inépcia e a insanidade do governo, representante da civilização. Na visão das elites do litoral, os jagunços eram facínoras. Para Euclides eram irmãos que deviam ser reintegrados à nacionalidade. Sob este prisma, as últimas páginas ganham uma força trágica impressionante. Os soldados penetram no arraial:
Os combatentes contemplavam-nos entristecidos. Surpreendiam-se; comoviam-se. O arraial, 'in extremis', punha-lhes adiante, naquele armistício transitório, uma legião desarmada, mutilada, faminta e claudicante. Custava-lhes admitir que toda aquela gente frágil saísse tão numerosa ainda dos casebres bombardeados durante três meses. Contemplando-lhes os rostos baços, os arcabouços esmirrados e sujos, cujos molambos em tiras não encobriam lanhos, escaras e escalavros - a vitória tão longamente apetecida decaída de súbito. Repugnava aquele triunfo. Envergonhava.
A sua conclusão é de que assistira a uma tragédia nacional. Uma tragédia que traduzia a incapacidade do Brasil litorâneo, mais ou menos desenvolvido, ocidentalizado e adaptado (a grosso modo) ao mundo moderno, de entender o grande sertão, imobilizado no tempo e na História, com suas hordas analfabetas, facilmente condutíveis por líderes messiânicos enlouquecidos. Por isso, ele vai encerrar o seu livro de forma quase panfletária:
É que ainda não existe um Maudsley para as loucuras e os crimes das nacionalidades...
 
O GÊNERO LITERÁRIO E O ESTILO
Os sertões é uma mescla de romance e ensaio científico, relato histórico e reportagem jornalística, o que torna impossível enquadrá-lo nos limites de um gênero literário. Trata-se de um obra de exceção. Esta "epopéia às avessas" distingue-se do mero documento com veleidades científicas pela presença e uso intencional da linguagem artística. O estilo é trabalhado, pomposo, enfático, cheio de antítese e comparações. Guilhermino César notou que o estilo sofre variações: é mais retórico nas passagens científicas e mais simples nas demais partes.

IMPORTÂNCIA DE EUCLIDES DA CUNHA

Apesar de alguns equívocos ideológicos, ditados pelas circunstâncias da época, Euclides da Cunha representa um corte na cultura urbana, tradicionalmente repetidora dos modelos europeus. Sua obra - e, em especial, Os sertões - tem a importância histórica da obra de Machado de Assis. Enquanto este denunciava a falta de autenticidade dos grupos dominantes do litoral, Euclides descia por um interior desconhecido, transformando o espanto da descoberta das mazelas do sertão num "grito de aviso à consciência nacional". O seu livro monumental acabaria influenciado, de forma decisiva, os autores nordestinos de 1930 e ainda João Guimarães Rosa.

 

 
 
 
 
   
 
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