O movimento pendular da sociedade brasileira entre imobilismo e modernização seria transferido para a literatura. Com efeito, os primeiros vinte anos do século são marcados tanto pela presença de resíduos culturais do século XIX como pela busca de novas formas de expressão.
E, acima de tudo, por um desejo individual - e nem sempre explícito - de redescoberta crítica do Brasil. De um Brasil esquecido, ignorado e, por vezes, doente, mas que precisa ser mostrado, discutido, interpretado. A grosso modo, podemos delimitar quatro tendências no período:
Parnasianos: ainda imperantes, com suas idéias formalistas, sua concepção da literatura como "sorriso da sociedade", sua linguagem retórica e bacharelesca. Olavo Bilac, na poesia, e Coelho Neto, na prosa, são os "príncipes" idolatrados. Coelho Neto escreve um sem-número de romances que obtêm grande sucesso, menos pela qualidade narrativa, e mais pelos intoleráveis artifícios verborrágicos de seu estilo.
Simbolistas: grupo relativamente inexpressivo que ainda sonha com neves e neblinas e escuta os doces violinos de Verlaine. Nas décadas posteriores, alguns jovens poetas talentosos como Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Mário Quintana iniciarão suas carreiras, demonstrando uma forte dívida para com estes simbolistas retardatários.
Realistas ou neo-realistas: prosadores cujos procedimentos literários são tipicamente realistas ( objetividade, verossimilhança, crítica social, análise psicológica, etc.) Destacam-se, dentro desta linha, Monteiro Lobato, com o resgate do caboclo paulista; Lima Barreto, com a fixação do universo suburbano carioca; e Simões Lopes Neto, que incorpora à ficção brasileira o vaqueano do pampa rio-grandense, além de registrar-lhe a fala regional. Estes narradores exerceriam poderosa influência sobre a geração dos romancistas de 1930.
Intérpretes do Brasil: compõem-se de dois representantes, Euclides da Cunha e Graça Aranha. Valem-se da literatura - o primeiro da linguagem, o segundo da estrutura do romance - para questionar a realidade brasileira e debater o seu futuro. Estão muito próximos do ensaio e o livro Os sertões se tornará o maior divisor de águas em nossa cultura, durante todo o século XX.
Ou seja, pré-modernista propriamente dito, no sentido de usar recursos técnicos ou temas inovadores, antes da eclosão da Semana de Arte Moderna, somente (e até certo ponto) o poeta Augusto dos Anjos. Em sua obra, apesar da mistura de influências cientificistas, parnasianas e simbolistas, há, de quando em quando, um inesperado gosto pelo coloquial e pela "sujeira da vida", que a coloca como precursora de uma das vertentes da poesia modernista.
A DESIGNAÇÃO DO PERÍODO LITERÁRIO
Por causa do ecletismo* da época - em que várias correntes e estilos se chocam e confundem, e vários autores apresentam uma mescla de academicismo e inovação - torna-se quase impossível rotular o período, enfeixá-lo dentro de um conceito abrangente e único. A necessidade pedagógica de uma designação para estas duas décadas que antecedem a Semana, levou o crítico Alceu de Amoroso Lima - já nos anos de 1950 - à criação do termo pré-modernismo.
Trata-se de um conceito que não abarca a complexidade estética e ideológica das obras produzidas então. Contudo, exigências didáticas e ausência de outra classificação satisfatória terminaram cristalizando a proposta daquele historiador literário. E assim, pré-modernismo passou a indicar todos os textos neo-realistas, as interpretações do Brasil e a poesia anunciadora da rebelião vanguardista.
Ecletismo: mistura de tendências, estilos e visões.
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