No Rio Grande do Sul, o principal simbolista foi Eduardo Guimarães (A divina quimera, 1916). No Paraná, destacou-se Emiliano Perneta (Ilusão,1911). Na Bahia, surgiu a poética estranha de Pedro Kilkerry.
Verdade que estes escritores ficam em segundo plano, diante da figura esplêndida de Cruz e Sousa, mas contribuem para a expansão de uma onda simbolista. Uma onda quase invisível, dado o domínio parnasiano e a posterior vitória modernista, e que só seria percebida nos livros iniciais de Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes, Cecília Meireles e Mário Quintana, todos com maior ou menor influência do Simbolismo.
O caso PEDRO KILKERRY (1885-1917)
Vida: Nasceu em Santo Antônio (Bahia). Estudou em Salvador, onde se formou em Direito. Ao morrer, com apenas trinta e dois anos, não tinha ainda livro publicado, fato que persiste até hoje.
Redescoberto pela vanguarda concretista, Pedro Kilkerry é mais um desses casos estranhos que povoam a história literária. Criador isolado de uma poética fragmentária, feita de aliterações, onomatopéias e neologismos, levou a extremos as possibilidades de expressão abertas pelos simbolistas, aproximando-se do experimentalismo de alguns poetas modernistas. Veja-se "Horas ígneas":
"Eu sorvo o haxixe do estio*
E evolve um cheiro, bestial
Ao solo quente, como o cio
De um chacal.
Distensas, rebrilham sobre
Um verdor, flamâncias* de asa...
Circula um vapor de cobre
Os montes - de cinza e brasa."**
Em vários momentos, entretanto, esta poesia inovadora descai para a prolixidade e para o vocabulário pedante.
* Estio: verão
* Flamâncias: brilhos
** Apud Campos, Augusto de. Re-visão de Kilkerry. São Paulo, Fundo Estadual de Cultura, 1970.
ORIGENS
As duas primeiras décadas do século XX não registram, no Brasil, convulsões semelhantes às ocorridas na Europa. A abolição da escravatura e o golpe republicano pouco haviam alterado as estruturas básicas do país. A economia - ainda voltada para as necessidades dos países europeus - assentava-se na dependência externa e no domínio interno dos cafeicultores.
Porém, algumas mudanças iam se desenhando. A urbanização, o crescimento industrial e a imigração modificam a fisionomia da sociedade brasileira. Nas cidades, começa a se formar uma classe média reformista. Simultaneamente, emerge uma massa popular insatisfeita e propensa a revoltas irracionais como, por exemplo, a rebelião contra a vacina obrigatória.
Na zona rural, produzem-se confrontos de maior ou menor intensidade dentro das classes dominantes, das violentas mas restritas lutas entre coronéis em determinadas regiões até a verdadeira guerra civil - que se trava no Rio Grande do Sul - entre republicanos e maragatos. Não esqueçamos também que, nesse período, irrompem as revoluções camponesas de Canudos (1896-1897) e do Contestado (1912).
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