Um dos elementos mais importantes da estética romântica, a natureza exerce profundo fascínio sobre os escritores do período, que vêem nela a antítese da civilização que os oprime.
Encontrar-se com a natureza significa encontrar-se consigo mesmo, significa alargar a sensibilidade. Rousseau identifica a natureza com o sentimento interior. Em seus passeios solitários, essa subjetivização do mundo natural é visível:
Da superfície da terra elevava as minhas idéias a todos os seres da natureza. Então, perdido o espírito nessa imensidão, não pensava, não raciocinava, não filosofava. Sentia-me - sentia-me com uma espécie de voluptuosidade. (...) Amava perder-me com a imaginação no espaço. Sufocava-me com o universo e gostaria de lançar-me ao infinito.
Caminhante contemplando o nevoeiro, de Gaspar D. Friederich, sintetiza tanto a solidão cósmica do homem romântico quanto a sua relação intensa com os aspectos mais grandiosos do mundo natural.
Todos os elementos naturais têm significação poética: as horas do dia, as estações do ano, o sol a lua, a tormenta. a correnteza, o mar, a montanha, a floresta e o campo. Essas paisagens múltiplas compõem um magnífico espetáculo e, de alguma maneira, traduzem os dramas humanos. A natureza se humaniza ou se diviniza. Seus fenômenos servem para indicar estados de espírito e sentimentos, tornando-se, muitas vezes, um prolongamento do eu: a sensação de desalento pode ser traduzida pela tempestade ou pelas sombras do crepúsculo, a angústia de um alma solitária pelo rugir do oceano, etc.
O poeta alemão, Novalis, por exemplo, é obcecado pela imagem da noite, ("Noite, santa, inefável, maravilhosa"), opondo seus enigmas e mistérios à claridade medíocre do dia, ("Tens que voltar sempre amanhã? Não termina nunca o poder do real?").
Mas a natureza é também a confidente para as horas melancólicas e a amante desencadeadora de inspirações. É quase impossível produzir arte sem o seu influxo, como se nota neste fragmento de Madame de Stäel:
Na natureza o homem reencontra em si mesmo sensações, alegrias ocultas que se correspondem com o dia, com a noite, com a tempestade. Esta aliança secreta de nosso ser com as maravilhas naturais é que garante à poesia sua verdadeira grandeza.
Sublinhe-se, enfim, que a natureza funciona também no Romantismo como uma mãe que protege o filho dos desconcertos do universo, conforme se verifica no trecho extraído de Devaneios de um caminhante solitário, de Rousseau:
Brilhantes flores, coloridos prados, sombras frescas, bosquezinhos, verdura, vinde purificar minha imaginação (...) Galgo os rochedos, as montanhas, mergulho nos vales, nos bosques, para me furtar, tanto possível, à lembrança dos homens e aos ataques dos maus. Parece-me que sob as sombras de uma floresta sou esquecido, livre e calmo como se não mais tivesse inimigos, ou como se a folhagem dos bosques me defendesse.
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