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Literatura Brasilera

III - OS ROMANCISTAS ROMÂNTICOS
 
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1. JOAQUIM MANUEL DE MACEDO (1820-1882)


Vida: Nasceu em Itaboraí (RJ), filho de uma família de posses. Jovem ainda, formou-se em Medicina, a qual não praticaria, seduzido pela carreira literária, pelo magistério (foi preceptor dos filhos da princesa Isabel e professor de História no colégio Pedro II) e pela política (tornou-se deputado pelo Partido Liberal em várias legislaturas), além de fazer constantes incursões pelo jornalismo. Foi o primeiro escritor brasileiro a conhecer grande popularidade, deixando uma obra bastante vasta de mais de quarenta títulos. Morreu no Rio de Janeiro.

Obras principais: A moreninha (1844); O moço loiro (1845); Memórias do sobrinho de meu tio(1867); A luneta mágica (1869)
A importância de Joaquim Manuel de Macedo resulta de uma percepção do próprio escritor: o público leitor nacional, centralizado na capital federal e devorador de folhetins europeus, estava disposto a aceitar um romance adaptado a cenários brasileiros, desde que a conservado o modelo de enredo das narrativas inglesas e francesas.

Além disso, o escritor deu-se conta de que precisava vencer a barreira moral - imposta pela estrutura patriarcalista - que não via com bons olhos a explosão de sentimentos naquelas histórias que afirmavam o direito da paixão sobre a obediência e sobre a hierarquia social.

Romance brasileiro
(Romance romântico europeu + cenários brasileiros + valores patriarcais)
O produto desse esforço foram relatos desprovidos de grande valor artístico, mas que possibilitavam ao leitor várias identificações. Tropeçava-se a todo instante em ruas, praças, praias e outras paisagens conhecidas. Aqui e ali, sob algum disfarce, topava-se com uma figura típica da sociedade carioca (fluminense, se dizia então). Um nome era lembrado, um costume coletivo evidenciado, de tal forma que a alegria do reconhecimento tornava-se contínua - como se, atualmente, alguém descobrisse o seu mundo e a si próprio num filme ou numa telenovela.

A adequação moral aos valores locais
 Em frente ao espelho, por Georg Frierich Kersting Outro fator de identificação resulta do processo de abrandamento do folhetim europeu. Embora o tema predileto de Macedo fosse o amor, as aventuras sentimentais que imaginou não possuíam nem a violência nem o velado amoralismo das histórias dos romances europeus de então. Afinal, aqui era o Brasil, país em que a burguesia não tinha expressão e a ideologia patriarcal dominava completamente os espíritos.
Afetos sim, mas afetos mantidos nos limites do decoro, para não ferir os leitores, nem com a tragédia, nem com a revolta. Mais açúcar do que sangue. Em vez de paixões intempestivas, respeitáveis namoros que, passando pelo noivado, terminam obviamente no casamento.
Não por casualidade, na obra de Macedo os impulsos íntimos dos enamorados sempre se enquadram nas normas da família patriarcal. Nada de vulcões, nada de protestos, nada de desrespeito. O universo pré-capitalista brasileiro ainda não podia conviver com a liberdade sentimental. Até os vilões sabem adaptar-se às conveniências sociais. Como disse um crítico, só praticam a vilania na medida em que o enredo assim o exige. Quer dizer, o mundo narrativo de Macedo não tem abismos.
Por isso, não devemos procurar no simpático "Dr. Macedinho" (assim o tratavam) reflexões adultas ou conflitos comovedores. Tudo nele é relativamente raso. Satisfaz-se com o que vê e vê apenas as aparências. E, enquanto colecionador de aparências, é um cronista razoável dos hábitos, da moda, dos tiques e - num certo sentido - da mediocridade das classes altas e médias urbanas, retratadas numa ótica bastante ingênua.

A importância histórica
O crítico Antônio Candido diz, com ironia, que Macedo parece ceder "a um irresistível impulso de tagarelice". Tagarelice comprovada na quantidade de sua produção: em pouco mais de trinta anos de carreira, escreveu dezoito romances, quinze peças de teatro, dois livros de poemas e sete volumes de variedades. Mesmo assim, forneceu as bases para a criação do romance brasileiro. Ao focalizar os costumes patriarcais, inventariou as dificuldades e os fuxicos próprios dos afetos juvenis, invariavelmente centrados no namoro e na promessa de casamento, e acabou mostrando (sem teor crítico), a pequenez de nossa vida urbana.
Acima de tudo, a sua importância na história literária advém do fato de conquistar os leitores para uma ficção voltada para temas e cenários locais, abrindo caminho a escritores de maior significado.
A Moreninha até hoje é a sua obra mais conhecida. Apesar da superficialidade da trama, há no texto um tom alegre e descompromissado que ainda diverte.

A MORENINHA
 Resumo
O estudante Filipe convida seu amigo e também estudante, Augusto, para um fim de semana em sua casa, na ilha de Paquetá. Augusto é famoso pela inconstância em relação à namoradas. Filipe aposta que desta vez ele se apaixonará por uma de suas primas. Na ilha, Augusto descobre a adolescente Carolina (a Moreninha), irmã de Filipe, que lhe desperta sentimentos contraditórios.

Em seguida, defendendo-se da acusação de leviano com as donzelas, explica a dona Ana, avó da jovem, o motivo de sua volubilidade. Quando tinha treze anos estava brincando na praia com uma linda e desconhecida menina. Na ocasião, aparecera um rapazinho, dizendo que o pai estava prestes a morrer. As crianças visitam o moribundo e, constatando a pobreza da família, dão-lhe o dinheiro que possuíam. O doente pede um objeto pessoal de cada um: Augusto entrega-lhe o camafeu da gravata, a garota um anel. Os objetos são embrulhados em pedaços de pano e cosidos por sua esposa. Depois, o moribundo entrega a cada um a jóia do outro, dizendo que eles se amariam e no futuro se tornariam marido e mulher. Portanto, o rapaz ficara preso a esta promessa juvenil.

O jogo entre o juramento do passado e o amor do presente - pois, obviamente, Augusto acaba gostando de Carolina - se alterna com brincadeiras marotas, erotismo negaceado, vinganças adolescentes, bilhetes secretos, problemas nos estudos, proibições paternas, etc. Tudo é bastante pueril e inocente, embora se possa perceber nessa ciranda de namoricos um retrato aproximado dos folguedos sentimentais permitidos na época. No fim da narrativa, Carolina entrega a Augusto o pacotinho contendo o camafeu: ela era a menina da praia. Assim, o namoro pode ser concretizado, sem que o estudante quebre a promessa feita cinco anos antes.

 
 
 
 
   
 
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