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José de Alencar Vida: Filho de tradicional família da elite cearense, José Martiniano de Alencar nasceu em Mecejana, no interior do Ceará. Seu pai, homem culto, liberal extremado, participou de várias revoluções, como a chefiada por Frei Caneca, em 1817, e a Confederação do Equador, em 1824, exercendo também cargos políticos importantes, como o de senador do Império. O menino viveu, portanto, em um ambiente familiar intelectualizado e favorável à formação cultural.
Tinha nove anos quando se mudou com os pais para a Corte (Rio de Janeiro), onde fez seus estudos primários, seguindo depois para São Paulo com o objetivo de concluir o secundário e matricular-se em Direito, curso no qual se formou em 1851, com vinte e dois anos de idade.
De volta à Corte, trabalhou como advogado e jornalista. Em 1856, sob pseudônimo de Ig, teceu duras críticas ao poema Confederação dos tamoios, de Gonçalves de Magalhães, que, por seu turno, foi defendido pelo próprio Imperador, também sob pseudônimo. No mesmo ano, Alencar publicou seu romance de estréia, Cinco minutos. Em 1857, lançou no jornal O Diário do Rio de Janeiro, sob a forma de capítulos, o folhetim O guarani, que teve uma repercussão jamais conhecida por qualquer outro escritor até então no país. Com trinta e cinco anos, casou-se com a sobrinha do Almirante Cochrane, herói da Independência. O casal teve quatro filhos.
Obras principais:
Romances urbanos: Cinco minutos (1856); A viuvinha (1857); Lucíola (1862); Diva (1864); A pata da gazela (1870); Sonhos d'ouro (1872); Senhora (1875); Encarnação (1877).
Romances regionalistas ou sertanistas: O gaúcho (1870); O tronco do ipê (1871); Til (1872); O sertanejo (1875);
Romances históricos: As minas de prata (1862); Alfarrábios (1873); A guerra dos mascates (1873)
Romances indianistas: O guarani (1857); Iracema (1865); Ubirajara (1874)
Estas categorias comprovam a amplitude geográfica, histórica e social do projeto literário de José de Alencar. Sua ambição era desmedida: cogitou fazer aqui o que Balzac fizera na França, ou seja, um painel gigantesco dos múltiplos aspectos da realidade nacional. Quis construir o romance brasileiro, a partir de um projeto que abrangesse a totalidade da nação, tanto na sua diversidade física-geográfica quanto em seus aspectos sócio-culturais; tanto em suas origens históricas gloriosas quanto nos mitos dos heróis fundadores da nacionalidade.
Regiões, história, costumes e mitos: eis a sua fórmula.
A LITERATURA COMO ALMA DA PÁTRIA
Em conseqüência, a idéia chave para a compreensão da obra de Alencar talvez esteja na sua célebre frase: "A literatura nacional que outra coisa é senão a alma da pátria?" Ou seja, cabe ao texto literário expressar a nação. Ele é o espelho no qual os brasileiros devem reconhecer-se como povo e como unidade cultural e territorial. Nele, os leitores desse país jovem, (que ainda não tivera nem sua geografia, nem sua alma, nem seus costumes registrados) poderiam encontrar uma identidade, uma auto-imagem favorável.
A LINGUAGEM BRASILEIRA
Mais tarde, Alencar percebeu que, para criar de fato o romance nacional não bastava apenas o uso explícito da temática brasileira e "cor local". Era preciso também tomar posição diante da questão da linguagem. Romper com os cânones estilísticos da literatura portuguesa passou a ser, para ele, um imperativo. Sem essa ruptura não se fundaria uma estética verdadeiramente autóctone. Por isso, ele foi atacado sistematicamente por gramáticos e escritores portugueses.
O esforço máximo de Alencar em torno da criação dessa linguagem brasileira ocorreu em Iracema. Entre os aspectos mais significativos que ali encontramos destacam-se:
- A utilização de períodos curtos, sintéticos, vinculando a prosa à concisão expressiva da poesia lírica. A isso se acrescenta a intensa musicalidade e o ritmo inovador da frase. Justifica-se assim a designação da narrativa como um "verdadeiro poema em prosa".
- Um estilo que se vale de inumeráveis comparações e metáforas, usadas na narração, nas descrições e nos diálogos. O estilo metafórico representaria uma espécie de tradução para o vernáculo nacional das formas básicas de expressão indígena, centrada em analogias e referências ao mundo natural.
- As comparações sempre vinculadas a elementos da paisagem física e animal do ambiente tropical brasileiro, sublinhando a dicção nacionalista do escritor.
- O uso permanente de vocábulos indígenas, obrigando o autor a explicá-los através de numerosas notas ao pé de página.
UM PAINEL INCOMPLETO DO PAÍS
Na celebração exaltada do nacional está a grandeza, mas também o principal problema do espelho alencariano. O Brasil que ele mostra tende à idealização da realidade humana e social. É um espelho opaco, que não reflete nem as mazelas da escravidão nem a brutalidade das camadas senhoriais. Reflete quase tão somente as luzes fulgurantes do trópico, e o destemor, a generosidade e o altruísmo de sua gente.
Assim, as imagens que aparecem nos romances de Alencar, em regra, são positivas e idealizadas. Elas transmitem uma certa sensação de irrealidade e, às vezes, nos parecem retorcidas e falsas. Correspondem menos aos fundamentos românticos da época e mais à necessidade das elites letradas apresentarem o país sob uma ótica benigna e autoelogiosa. Mesmo assim, em várias obras, o autor cearense consegue ultrapassar os limites ideológicos que o aprisionavam à sua época, revelando qualidades de grande ficcionista.
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