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Literatura Brasilera

REALISMO: ORIGENS

 
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A segunda metade do século XIX, na Europa, define-se por uma série de transformações econômicas, científicas e ideológicas que possibilitam o surgimento de uma estética anti-romântica.

Uma nova revolução industrial, caracterizada pelo avanço tecnológico e progresso científico, modifica não apenas os processos de produção, mas a própria estrutura econômica. Os negócios familiares em pequena escala são substituídos por grandes empresas, muitas vezes agrupadas em cartéis, e a população se concentra em vastos aglomerados urbanos, impelida pela industrialização. As nações tornam-se representantes de seus grupos econômicos privados, ampliam o mercado internacional e terminam por se fazer imperialistas, partindo para a conquista direta ou indireta de considerável número de países africanos e asiáticos. É o grande momento da Europa: a burguesia urbana, enriquecida pelo espólio colonial, vive o luxo, goza o poder sobre o mundo.


Um mundo que agora se explica a partir de si mesmo: Comte cria o Positivismo e a sociedade passa a ser entendida em sua existência concreta; Darwin elabora a teoria sobre a evolução das espécies; Lamarck estabelece bases reais para a Biologia; a Psicologia é associada à Fisiologia; a Medicina se torna experimental; Pasteur penetra nos segredos de microorganismos; Taine organiza padrões objetivos para a crítica literária. Eis um mundo claro, sem abismos, que já não encerra mistérios, como afirmam os cientistas da época.

As contradições, no entanto, continuam explodindo: as cidades crescem sem planejamento e não oferecem as mínimas condições de conforto e higiene; acentua-se a divisão do trabalho entre a burguesia e o proletariado; o Socialismo de Marx e o Anarquismo de Bakunin e de outros líderes ganham adeptos; irrompem revoltas de trabalhadores, como a Comuna de Paris (1871), que durante setenta dias promoverá um radical governo proletário, até a sua violenta dissolução por forças conservadoras. Nesse universo, ao mesmo tempo da euforia burguesa e do capitalismo desumano, os valores românticos entram em crise.

Já não é possível a fantasia, nem o mito da natureza, nem o fechar-se na própria interioridade. Os acontecimentos exigem a participação do artista. Agora ele é um participante do mundo, ou ao menos, um observador do mundo. É verdade que o sentimento desagradável da realidade persistirá em sua alma, herança do Romantismo. Mas em vez de transformar esse sentimento em desabafo ou grito, como o romântico, o artista procurará examiná-lo à luz de teorias sociológicas, psicológicas ou biológicas.
Ema Bovary, a estupenda personagem de Flaubert, conforme uma pintura da época.

O SURGIMENTO DO REALISMO
Realismo é um termo bastante amplo que serve para designar as mais variadas tendências artísticas. No sentido de "arte que pretende a reprodução exata e sincera do ambiente social e da época em que vivemos", ele já aparece numa exposição de pinturas de Coubert, em 1856. Porém, como afirmação literária de uma doutrina estética, surge em 1857, também na França, com Madame Bovary, de Gustave Flaubert.
Colocando a romântica Ema Bovary em contato com a realidade, Flaubert reflete sobre a impossibilidade de concretização das fantasias sentimentais.

Ela sonha com uma vida diferente e excitante, ao lado de alguém que seja a encarnação de um príncipe encantado. A decepção com o marido e a busca do mundo de beleza, prazer e refinamento que os textos românticos lhe haviam mostrado, carregam-na em direção ao adultério. Trai duas vezes e em ambas as traições experimenta a "grande paixão" e em seguida o abandono do amante. Desiludida, compreende a impotência e a alienação romântica de seus desejos, mas não tem forças para suportar a grosseria e o utilitarismo da existência pequeno-burguesa, preferindo o arsênico à lenta asfixia de um cotidiano vazio.

O romance causa enorme impacto na Europa e é oficialmente censurado. Flaubert sofre acusação pública de incentivo à imoralidade. Apesar de absolvido, seu nome fica associado ao escândalo e à denúncia da hipocrisia da moral burguesa. Por outro lado, dezenas de jovens escritores, no mundo inteiro, tomam o autor de Madame Bovary como modelo insuperável de construção romanesca e se inspiram nessa obra para fundar ou desenvolver os princípios realistas em seus países.
No entanto, poderíamos dizer que o Realismo já se estruturara, em termos práticos, alguns anos antes, com Balzac e Stendhal. Em seus melhores romances (respectivamente As ilusões perdidas e O vermelho e o negro), futuros postulados do movimento são facilmente identificáveis.

Balzac olha os indivíduos sempre como representantes de certos grupos sociais, e esses indivíduos só possuem significado dentro das narrativas se expressarem as vivências e as idéias de seus grupos. Já Stendhal desenvolve o "método analítico de observação psicológica", e os seus personagens são construídos através de pormenores mínimos, de pequenas apreciações, de matizes por vezes contraditórios, obrigando o leitor a completá-los e a reinterpretá-los. Portanto, a representatividade histórica e a análise psicológica dos personagens, típicas do Realismo, sedimentam-se em Balzac e Stendhal.

1. Objetividade e Impessoalidade
Os realistas fogem às exibições subjetivas dos românticos. O escritor deve manter a neutralidade diante daquilo que está narrando, e, dentro de alguns limites, jamais confunde sua visão particular com a visão e os motivos dos personagens. Por isso mesmo, há um domínio das narrativas em terceira pessoa ("Raskolnikov puxou o ferrolho, entreabriu a porta...") sobre as narrativas em primeira pessoa ("Eu puxei o ferrolho..."). A terceira pessoa favorece a impressão de que os personagens realizam seus destinos sem a interferência do sujeito que as criou. Flaubert comparava o escritor a um "deus ex machina", isto é, a um deus fora do mundo que tudo sabe e ninguém vê:
O autor, em sua obra, deve ser como um Deus no universo: onipresente e invisível.
2. Racionalismo
Reflexo do racionalismo ideológico e científico da época, significa a possibilidade de uma investigação objetiva dos indivíduos, como tais, e como agentes de grupos da sociedade.
Os resultados são:
-análise psicológica
-tipificação social
A análise psicológica é o estudo dos caracteres, motivações e tendências da vida psíquica, considerada em suas relações com o momento histórico, o meio ambiente e com os instintos mais subterrâneos dos homens. O grande analista de almas é aquele que não diz tudo a respeito do personagem, de forma que este tenha sempre um abismo inexplorado que, repentinamente (e com coerência), possa vir à tona. O russo Tolstói é especialista na criação de seres complexos; o príncipe André em Guerra e paz descobre o verdadeiro motivo que o levou ao Exército:
Tenho alguma culpa se desejo isso, se quero a glória, se quero que todos os homens me conheçam, que me estimem, se vivo apenas para isto? Sim, apenas para isso! (...) A morte, os ferimentos, a perda da família, nada me assusta. Por mais caros que me sejam meu pai, minha irmã, minha mulher e todos a quem mais estimo, e por mais terrível e antinatural que isso possa parecer, daria tudo isso por um momento de glória, de triunfo, pela estima dos homens que não conheço, que não conhecerei nunca - pensou André, ouvindo vozes no pátio.
A tipificação social corresponde à destruição da idéia de indivíduo sem vínculos com a realidade concreta. Suas ações, gestos e falas, seus conflitos são as representações particularizadas do grupo ao qual pertence. Assim, em O vermelho e o negro, Julien Sorel é um indivíduo que lamenta a derrocada de Napoleão, mas este lamento é também o de um grupo social, formado por jovens pequeno-burgueses, sem chances de ascensão após a restauração da monarquia.
Ah! - gritou Julien - Napoleão era de fato o enviado de Deus para os jovens franceses! Quem o irá substituir? Que vão fazer sem ele os desgraçados, mesmo os mais ricos de que eu, que têm exatamente os poucos escudos de que precisam para conseguir uma boa educação, e dinheiro insuficiente para comprar um homem aos vinte anos e lançar-se numa carreira! Por mais que façamos - acrescentou com um profundo suspiro, essa lembrança fatal há de impedir-nos sempre de ser felizes!

3. Verossimilhança
A idéia de que o escritor deve reproduzir fielmente o real é um dos princípios centrais do movimento. Essa semelhança com aquilo que seria a verdade da vida objetiva e da vida interior leva-o a renunciar a tudo que pareça improvável ou fantástico. Nada dos velhos truques narrativos dos românticos que davam a impressão de artificialidade ou de invenção ficcional. O leitor precisa acreditar na veracidade do texto, o qual lhe passará um sentido de totalização e abrangência, como se a própria realidade estivesse ali, naquelas páginas.
Peneiradoras de trigo, de Gustave Courbert, iniciador da pintura realista. Este, como outros quadros seus, foram acusados de "vulgares e repulsivos" pelo registro minucioso da realidade mais prosaica.
A literatura deve refletir os mecanismos da vida, eis o projeto do autor realista. E, para que haja este reflexo, esta mimese, são necessárias a observação e a experiência. O sentido da observação, em especial, torna-se o aspecto preponderante, na medida em que diminuem as chances de participação do artista na complexidade cada vez mais intrincada do mundo urbano. Ele não pode mais vivenciar todas as situações humanas. Apela então para a sua faculdade de ver, registrar entrevistar e informar-se.

Assim, o realista estabelece um novo procedimento para a composição literária, até hoje dominante no gosto do público leitor. Quanto ao elemento imaginário, nota-se que ocupa um segundo plano, sem perder, no entanto, sua função indispensável de fecundar criativamente os dados concretos, recolhidos da realidade.

Se tomarmos o trecho abaixo (situado historicamente na França pós-revolucionária) que descreve o tédio e o vazio dos salões aristocráticos, e o compararmos com documentos sobre a época, veremos que Stendhal reproduz com fidelidade rigorosa aquele mundo, no romance O vermelho e o negro.

Mesmo neste século entediado, ainda é tamanha a necessidade de divertimento que mesmo nos dias de jantares, logo que o marquês deixava o salão, todos fugiam. Contanto que não pilheriassem com Deus, nem com os pobres, nem com o Rei, nem com as pessoas de posição, nem com os artistas protegidos pela corte, nem com tudo o que está consagrado; contanto que não falassem bem de Béranger, nem dos jornais da oposição, nem de Voltaire, nem de Rousseau, nem de todos os que se permitiam certa linguagem franca; contanto, sobretudo, que nunca falassem em política, podiam comentar tudo livremente.
Não há cem mil escudos de renda nem condecoração que possam lutar contra tal código de salão. A menor idéia viva parecia uma grosseria. Apesar do bom tom, da perfeita cortesia, do desejo de agradar, lia-se o aborrecimento em todos os semblantes Os moços que compareciam para cumprir um dever, de medo de aludir a qualquer coisa que levantasse suspeita de pensamento ou de trair alguma leitura proibida, calavam-se depois de algumas frases muito elegantes sobre Rossini e o tempo que estava fazendo.

4. Contemporaneidade
Se os românticos tinham o fascínio do passado, tanto o histórico como o individual, os realistas, pela necessidade da verossimilhança, escrevem sempre sobre fatos, situações e personagens relacionados com a vida presente, com a vida que lhes é contemporânea. As grandes cidades com sua abundância de ofertas, suas infinitas chances de realização pessoal, amorosa e intelectual e, ao mesmo tempo, com seus inúmeros horrores e perigos, envolvem os artistas, fazendo-os descobrir as contradições da modernidade.

Edição antiga de Flores do mal, de Baudelaire, o poeta que expressou em seus textos a sensação da modernidade. Baudelaire passeia pelas ruas de Paris e é seduzido pelo fascínio das multidões:
Nem a todos é dado tomar um banho de multidão: gozar da multidão é uma arte;(...) O passeador solitário e pensativo encontra singular embriaguez nessa comunhão universal. Aquele que desposa facilmente a multidão conhece gozos febris, de que estarão eternamente privados o egoísta, fechado como um cofre, e o preguiçoso, encaramujado feito um molusco. Ele adota como suas todas as profissões, todas as alegrias e todas as misérias que as circunstâncias lhe deparam.
Aquilo a que os homens chamam amor é muito pequeno, muito limitado e muito frágil, comparado a essa inefável orgia, a esta sagrada prostração da alma que se dá inteira, poesia e caridade, ao imprevisto que surge e ao desconhecido.

5. Pessimismo
Descrentes das possibilidades da burguesia dominante em estabelecer um sentido justo para a existência, os artistas do período assumem posições de crítica e indignação frente a classe da qual quase todos procedem. Alguns enxergam no socialismo - um socialismo em geral utópico - a saída, tornando-se ardorosos propagadores de um novo sistema histórico. Outros, como os russos Tolstói e Dostoievski, voltam-se para um cristianismo primitivo, que pintam como única alternativa de uma autêntica comunidade humana. A maioria, contudo, expressa seu desprezo pelos valores burgueses sem se afeiçoar a alguma ideologia reformista ou revolucionária. Muitos caem na amargura e no niilismo*.
No final de Os Maias - obra-prima de Eça de Queirós - Carlos e João da Ega, educados para formar uma elite capaz de modificar Portugal, reconhecem o fracasso de sua geração. O tédio de Carlos é a metáfora da derrota:

Depois Carlos, outra vez sério, deu a sua teoria da vida, a teoria definitiva que ele deduzira da experiência e que agora o governava. Era o fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranqüilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes, e de dias suaves. E, nessa placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada, que se chama o EU, ir deteriorando-se e decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo. Sobretudo, não ter apetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades.
Ega, em suma, concordava. Do que ele principalmente se convencera nesses estreitos anos de vida era da inutilidade de todo o esforço.
Entre os escritores do real-naturalismo há também uma espécie de convicção (e até de certo cultivo) de que o sofrimento é a insubstituível matéria-prima de suas narrativas, conforme a célebre abertura de Ana Karenina, de Tolstói:
Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.
* Niilismo: descrença absoluta.
6. Perfeição Formal


Estabelece-se uma nova linguagem, entendida agora como fruto do trabalho e não da inspiração. Decorre de um longo processo de síntese, de cortes, de eliminação do supérfluo, de despojamento do acessório, de busca da palavra exata.
O realista luta com as palavras, é um torturado pela forma, um obcecado pela adequação entre o pensamento, a idéia, o assunto e a linguagem que os reveste. Flaubert representa o ponto máximo desse formalismo. Para ele, "construir" a forma é tão importante quanto desenvolver o conteúdo. Mas esta "construção" é angustiante porque a realidade transborda da linguagem, é maior que a linguagem, o que torna a tarefa literária quase uma impossibilidade pois a perfeição total nunca é atingida.
Resumindo: O como dizer se torna tão fundamental como aquilo que é dito. O esteticismo e a perfeição do estilo levaram Flaubert a sonhar com um livro sem mensagem, sem conteúdo, construído apenas de palavras perfeitas:

Escrever um livro sobre o nada, um livro sem relação com o exterior que se sustentaria apenas pela força interior de seu estilo, como a terra se sustém no ar sem ajuda. Um livro que quase não tivesse assunto, ou ao menos no qual o assunto fosse quase invisível, se alguém pudesse fazer isto. As obras mais formosas são aquelas que carecem praticamente de matéria. Nelas mais a expressão se aproxima do pensamento, mais a palavra desliza e desaparece.

 

 
 
 
 
   
 
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