Émile Zola, o líder e teórico do romance naturalista, segundo Manet. O Naturalismo é uma espécie de prolongamento do Realismo. Os dois movimentos são quase paralelos e muitos historiadores vêem no primeiro uma manifestação do segundo
Assim, o Naturalismo assume quase todos os princípios do Realismo, tais como o predomínio da objetividade, da observação, da busca da verossimilhança, etc., acrescentando a isso - e eis o seu traço particular - uma visão cientificista da existência.
Conseqüência das novas idéias científicas e sociológicas que varriam a Europa, a visão naturalista ergue-se sobre os preceitos do evolucionismo, da hereditariedade biológica, do positivismo e da medicina experimental. Hippolyte Taine - muito lido na época - afirma que "três fontes diversas contribuem para produzir o estado moral elementar do homem: a raça, o meio e o momento." O maior dos naturalistas, Émile Zola, delimita o caráter dessa junção entre literatura e atividade científica, e a subordinação da primeira diante da segunda:
Meu desejo é pintar a vida, e para este fim devo pedir à Ciência que me explique o que é a vida, para que eu a fique conhecendo.
O Romance Experimental
Zola não esconde a sua admiração por Claude Bernard, fundador da chamada medicina experimental. O romancista procura se equiparar ao médico. Seu método de composição artística pressupõe uma objetividade e um rigor tão absolutos que o escritor se transforma num mero ilustrador dos postulados das ciências.
Diz ele:
O romance deve ser um estudo objetivo das paixões. Devemos observar escrupulosamente as sensações e os atos das pessoas. Limito-me a fazer em dois corpos vivos aquilo que os cirurgiões fazem em cadáveres.
Esta proximidade da literatura com o método de investigação médica de Bernard leva Zola a designar o romance naturalista também como romance experimental. A pretensão científica torna-se cada vez mais obstinada:
O romance experimental é uma conseqüência da evolução científica do século. Ele continua e completa a fisiologia; ele se apoia sobre a química e a física; ele substitui o estudo do homem abstrato e metafísico pelo estudo do homem natural, submetido à leis físico-químicas e determinado pelas influências do meio. Ele é, em uma palavra, a literatura de nossa idade científica.
SURGIMENTO DO NATURALISMO
O Naturalismo surge como programa e atividade no romance Teresa Raquin (1868), de Zola, que apresenta um prólogo muito ilustrativo das tendências cientificistas do movimento:
Em Teresa Raquin quis estudar temperamentos e não caracteres. Escolhi personagens dominados ao máximo por seus nervos e por seu sangue, desprovidos de livre arbítrio, arrastados a cada ato de sua vida pela fatalidade da carne. Teresa e Lourenço são brutos humanos, nada mais. Tratei de seguir, passo a passo, em tais selvagens, o trabalho surdo das paixões, as pressões do instinto, as alterações cerebrais, produtos de uma crise nervosa...
Que se leia o romance com cuidado e se verá que cada capítulo é um estudo de um curioso caso fisiológico.
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