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O fim da Guerra do Paraguai (1865-1870) determina o fim da legitimidade da monarquia brasileira junto à parcelas consideráveis da população. Nem a vitória militar revigora o regime.
Ao contrário, os oficiais do Exército, em seu retorno, recusam-se a perseguir os escravos fujões e começam a ser atraídos por idéias positivistas e republicanas. Na sociedade civil, especialmente a urbana, um forte sentimento oposicionista toma conta dos setores médios e do público jovem. No Nordeste, arruinado economicamente, surge a geração contestadora dos anos de 1870.
Sílvio Romero, Tobias Barreto e outros agitam um punhado de novas ideologias. De Comte a Taine, tudo que ée anti-monárquico, anti-clerical, anti-escravocrata e anti-romântico encontra eco na rebelde cidade do Recife. Já no início da década, Sílvio Romero, influenciado por teorias realistas, passa o atestado de óbito da poesia romântica, acusando-a de "lirismo retumbante e indianismo decrépito".
Assalto brasileiro a Curuipati, pintado pelo jovem soldado argentino Cándido López. As mortes de Castro Alves, em 1871, e a de José de Alencar, em 1877, representam o fim de um ciclo literário, ainda que tanto o poeta baiano como o romancista cearense já se aproximassem, no fim de suas vidas, de uma expressão mais objetiva e menos idealista da realidade. De qualquer forma, o Romantismo e o II Império tinham estado muito próximos e agora ambos iriam passar por uma longa agonia, à espera do último suspiro.
A sociedade, no entanto, continua se movendo, exigindo mudanças. Em São Paulo, uma nova elite cafeicultora se distingue dos velhos barões do café, do Vale do Paraíba, por seu ideário modernizador: preferem imigrantes a escravos em suas lavouras e não são totalmente hostis à nascente atividade industrial. Levas de imigrantes chegam, ora para o trabalho assalariado nas fazendas, ora para a ocupação de pequenas propriedades, no sul do país. Graças a seus hábitos de poupança e a seus conhecimentos técnicos, muitos deles migrarão para as cidades, constituindo pequenas indústrias semi-artesanais.
Em 1884. a província do Ceará decreta a liberdade dos escravos, pondo-se a frente do processo abolicionista. No Rio Grande do Sul, um grupo de jovens bacharéis cria um partido republicano de forte tendência autoritário-positivista, cuja culminância política seria atingida, quarenta anos depois, com Getúlio Vargas. Os cadetes e os jovens oficiais do Exército ouvem cada vez mais as pregações ardentemente republicanas de Benjamin Constant, no Rio de Janeiro. Tudo se move, menos a pesada estrutura política do Império.
Isolado do vozerio das ruas, o Imperador prefere fazer longas viagens pelo mundo que chegam a durar dois anos. A ordem imperial é mantida apenas por grupos de latifundiários conservadores que luta contra a abolição, e por uma espécie de respeito coletivo pela figura venerável de D. Pedro II. O fim da escravatura, em 1888, elimina o apoio dos senhores rurais e toda a nação parece esperar a morte do monarca para a proclamação da República. Mas esta vem antes, por uma ação quase solitária do marechal monarquista Deodoro da Fonseca, em novembro de 1889.
Ainda que nascesse de um golpe de estado e não tivesse nenhuma proposta radical de alteração do status quo, a República contará com significativo apoio popular e trará progresso para o país, sobremodo a partir da virada do século. Uma grande era de inércia estava se acabando.
O Romantismo termina antes do Império. Na década de 1880 ele já está superado nos meios artísticos, exceto na música.* Neste momento histórico, a intelectualidade rebela-se contra a pieguice, o exagero, o nacionalismo ufanista, e exige uma postura crítica diante da vida. 1881 é o ano decisivo: Machado de Assis lança Memórias póstumas de Brás Cubas, e Aluísio Azevedo publica O mulato, inaugurando respectivamente o Realismo e o Naturalismo entre nós.
Advirta-se, contudo, que o realismo machadiano tem pouco a ver com os princípios europeus do movimento, constituindo-se - como veremos adiante - num realismo à parte. Também o romance inaugural da estética naturalista é perturbado por desvios românticos e melodramáticos, fazendo de O mulato uma obra de estilo mesclado. Apesar disso, as duas narrativas representam o triunfo do novo e abrem um período de excepcional brilho em nossa literatura.
* Curiosamente, o Romantismo permanece até hoje no gosto popular como modelo insuperável de um certo tipo de arte emotiva, singela, e mais ou menos superficial.
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