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VIDA: Nasceu no Maranhão e formou-se advogado, em São Paulo. Trabalha no interior do Rio de Janeiro como magistrado e, em Ouro Preto, como secretário de Finanças. Passa em seguida para a diplomacia, trabalhando em Lisboa. Volta mais tarde à antiga capital federal , onde mais uma vez exerce a magistratura. Morre, com cinqüenta e dois anos, em Paris, onde fazia um tratamento de saúde.
OBRAS PRINCIPAIS: Sinfonias (1883); Aleluias (1891)
A exemplo dos demais componentes da tríade parnasiana, Raimundo Correia foi um consumado artesão do verso, dominando com perfeição as técnicas de montagem e construção do poema. Alguns críticos valorizam nele o sentido plástico de suas descrições da natureza. O gelo descritivista da escola seria quebrado por uma emoção genuína - fina melancolia - que humanizava a paisagem, como se pode visualizar no excerto abaixo:
Esbraseia o Ocidente na agonia
O sol...Aves bandos destacadas
Por céus de oiro e de púrpura raiados
Fogem...Fecha-se a pálpebra do dia...
Delineiam-se, além da serraria,
Os vértices da chama aureolados.
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia...
O PESSIMISMO FILOSOFANTE
Essa melancolia transforma-se, em outros poemas, numa visão dolorida da existência. O acento pessimista, a busca de uma dimensão quase filosófica para o fracasso dos sonhos e certas emanações sensíveis garantiriam a Raimundo Correia um lugar especial dentro do Parnasianismo, não fosse a falta de originalidade de sua inspiração.
Mais de uma vez os estudiosos surpreenderam influências excessivas de autores estrangeiros em sua obra. Tanto em Mal secreto, quanto em As pombas, seus dois sonetos mais conhecidos, há um quase plágio de textos de Metastásio e Théofile Gautier, respectivamente.
A par dessa falta de singularidade, acrescente-se que ele ajuda a forjar o gosto da época por poemas de reflexão existencial. Poemas que, na rigidez da fórmula de quatorze versos, apresentam pequenas sínteses morais sobre a condição humana, numa filosofia bastante próxima da banalidade. Tais lugares-comuns do pensamento, como já vimos, agradavam ao público, mas estão longe de constituir fonte profunda de indagação e questionamento do sentido da vida.
Entre as "pérolas" de seu repertório está justamente o soneto As pombas, um dos mais recitados no país:
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais...mais outra...enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sangüínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem...Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
Não menos enfático e declamatório, e com aquele acento filosofante beirando à trivialidade, é o soneto Mal secreto:
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito* inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!"
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