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O Arcadismo pode ser entendido como a vitória da razão sobre a religião. Enquanto o Barroco expressava a dúvida entre a religião (fé) e a razão, o Arcadismo marca a ascensão definitiva da mentalidade renascentista e racional do homem. Vejamos o trecho do livro vivendo a filosofia de Piletti:
"O Renascimento é um momento marcante da história do pensamento ocidental, caracterizado pela importância que o homem passa a atribuir a si mesmo dentro ao contexto da natureza. Valorizando progressivamente a condição humana e sua capacidade de conhecer e intervir no todo, a produção intelectual desse período se toma audaciosa e crítica em relação à visão tradicional, sobretudo no que diz respeito às explicações dadas aos fenómenos naturais. Já não satisfaziam mais as respostas que atribuíam a Deus e a sua vontade a razão para todos os fenómenos da natureza. Em vêz da fé, a compreensão "iluminada", é a razão, fortalecida, que constrói seus próprios caminhos em busca do entendimento das coisas, dando os primeiros passos em direção a um determinado tipo de conhecimento da natureza, ao qual denominamos ciência moderna. Por esse motivo, o avanço do pensamento filosófico nesse momento pode ser entendido como uma parte da história da ciência.
Durante a Idade Média praticamente todo o saber foi guardado e monopolizado
pela Igreja. Mesmo a ciência que se produziu nessa época se realizou dentro dos mosteiros cristãos. O humanismo conseguiu afrouxar um pouco o controle da Igreja sobre a atividade intelectual, levando a uma lenta secularização do ensino durante o renascimento, quando surgiram os primeiros colégios mantidos pelo poder civil. Os laços entre filosofia natural (como se denominava a ciência) e teologia também se afrouxariam, embora as principais conquistas científicas desse período tenham sido realizadas por clérigos, mesmo que não da alta hierarquia, como Nicolau de Cusa e Copérniai.Podemos dizer que o surgimento de uma atitude científica está intimamente ligada ao universo renascentista e ao novo olhar que nesse período se desenvolveu. E difícil dizer o que deu origem a essa transformação, mas há um acontecimento que muito contribuiu para a formação de uma nova visão do mundo concreto: o descobrimento já América. O que o homem europeu sentiu quando percebeu que a Terra não era do
leito que ele imaginava? Euforia, incerteza, dúvida, confusão, ceticismo, desespero?
Refletindo sobre isso, podemos supor, junto com a historiadora brasileira Laura de Mello; Souza, que "a descoberta da América talvez tenha sido o feito mais espantoso da
listória dos homens."
O Arcadismo é o movimento literário que reflete a influência neoclássica. Foi na Itália que essa influência assumiu feição particular. Este escola literária inspirava-se na lendária região da Grécia antiga. Segundo a lenda, a Arcádia era dominada pelo deus Pan e habitada por pastores que, vivendo de modo simples e espontâneo, se divertiam cantando, fazendo disputas poéticas e celebrando o amor e o prazer.
Os italianos, procurando imitar a lenda grega, criaram a Arcádia em 1690 - uma academia literária que reunia os escritores com a finalidade de combater o Barroco e difundir os ideais neoclássicos. Para serem coerentes com certos princípios, como simplicidade e igualdade, os cultos literatos árcades usavam roupas e pseudónimos de pastores gregos e reuniam-se em parques e jardins para gozar a vida natural.
No Brasil e em Portugal, a experiência neoclássica na literatura se deu em torno dos modelos do Arcadismo italiano, com a fundação de academias literárias, simulação pastoral, ambiente campestre, etc. Esses ideais de vida simples e natural vêm ao encontro dos anseios de um novo público consumidor em formação, a burguesia, que historicamente lutava pelo poder e denunciava a vida luxuosa da nobreza nas cortes.
A linguagem árcade é a expressão das idéias e dos sentimentos do artista do século XVIII Seus temas e sua construção procuram adequar-se á nova realidade social vivida pela classe que a produzia e a consumia: a burguesia.
LEITURA
O poema abaixo pertence a Cláudio Manuel da Costa, o introdutor do Arcadismo no Brasil.
Leia-o observando o assunto e os aspectos formais do texto; vocabulário, construções sintáticas, figuras de linguagem, etc.
LXII
Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes oiteiros;
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte rico, e fino.
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os miseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia,
Que da cidade o lisonjeiro encanto;
Aqui descanse a louca fantasia;
E o que té agora se tornava em pranto,
Se converta em afetos de alegria.
(Em Pendes Eugênio da Silva Ramos, org.
Poemas de Cláudio Manuel da Costa. São
Paulo, Cultrix, 1976. p. 63.)
1. O eu lírico afirma: "Tomo a ver-vos, ó montes".
a) Quem é o eu lírico?.
b) De onde vem e como se sentia nesse local? Justifique sua resposta com pa-
do texto..
c) Aonde chegou e como se sente agora? Justifique da mesma forma..
2. Faça uma oposição entre os dois espaços presentes no poema, apontando ai
a) quanto ao aspecto material;
b) quanto ao aspecto espiritual, na visão do eu lírico...
3. Uma das atitudes comuns na linguagem árcade é a referência a elementos gregos ou latinos. Verifique a existência dessa atitude no texto..
4. Com base no poema em estudo, compare a linguagem árcade à linguagem barroca e aponte diferenças quanto:
a) ao vocabulário, às estruturas sintaticas, às figuras de linguagem, etc.;.
b) à exposição de sentimentos;. c) ao tema;.
d) à visão de mundo.
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