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Literatura Brasilera

Características da linguagem árcade
 
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Além das características da linguagem citadas anteriormente, outras merecem destaque:
• fugere urbem: (fuga da cidade): influenciados peIo poeta latino Horário, os árcades defendiam o bucolismo como ideal de vida,isto é, uma vida simples e,natural, junto ao campo,distante dos centros urbanos. Tal principio era reforçado pelo pensamento do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, segundo o qual a civilização corrompe os costumes do homem, que nasce naturalmente bom. Observe como nestes versos de Cláudio Manuel da Costa, já no
século XVIII, é ressaltada a violência da cidade, em oposição à paz do campo:
"Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata, civil correspondência
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado"

• áurea mediocritas: vida mediocre, materialmente, mas rica em realizações espirituais é outro traço presente advindo da poesia horaciana. Trata-se da idealização de uma vida pobre e feliz no campo, em oposição à vida
luxuosa e triste na cidade. Nestes versos de Tomás António Gonzaga, por exemplo, são exaltados o trabalho manual e o sentimento, em oposição ao artificialismo e ás facilidades da vida urbana:
Se não tivermos lãs e peles finas,
podem mui bem cobrir as carnes nossas
as peles dos cordeiros mal curtidas,
e os panos feitos com as lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
por mãos de amor, por minhas mãos cosido.

• ideias iluministas: como expressão artistica da burguesia, o Arcadismo veicula também certos ideais politicos e ideológicos dessa classe, no caso, ideias do Iluminismo. Os iluministas foram pensadores que defenderam o uso da razão, em contraposição á fé cristã, e combateram o Absolutismo. Embora não sejam a preocupação central da
maioria dos"poetas árcades, ideias de liberdade, justiça e igualdade social estão presentes em alguns textos da época,como nestes versos de Tomás António Gonzaga :
O ser herói, Marilia, não consiste
Em queimar os impérios: move a guerra,
Espalha o sangue humano,
E despovoa a terra
Também o mau tirano.
Consiste o ser herói em viver justo:
E tanto pode ser herói o pobre,
Como o maior augusto.

•convencionalismo amoroso: na poesia árcade, as situações são artificiais; não é o próprio poeta quem fala de si e de seus reais sentimentos. No plano amoroso, por exemplo,quase sempre é um pastor que confessa o seu amor por uma pastora e a convida para aproveitar a vida junto á natureza.
Porém, ao se lerem vários poemas, de poetas árcades diferentes, tem-se a impressão de que se trata sempre de um mesmo homem, de uma mesma mulher e de um mesmo
tipo de amor. Não há variações emocionais. Isso ocorre devido ao convencionalismo amoroso, que impede a livre expressão dos sentimentos, levando o poeta a racionalizá-
los. Ou seja, o que mais importava ao poeta árcade era seguir a convenção, fazer poemas de amor como faziam os poetas clássicos, e não expressar os sentimentos.
Além disso mantém-se o distanciamento amoroso entre os amantes, que já se verificava na poesia clássica. A mulher é vista como um ser superior, inalcançável e imaterial. Na
poesia de Cláudio Manuel da Costa, por exemplo, a mulher amada é sempre uma Nise, que surge distante e incorpórea.
Ah! queira Deus que minta a sorte irada:
Mas de tão agouro cuidadoso
Só me lembro de Nise, e de mais nada
•Carpe diem: O desejo de aproveitar o dia e a vida enquanto é possível. Este tema é bastante explorado no Barroco, e acabou sendo retomado pelo Arcadismo.
Ah! não, minha Marília,
aproveite-se o tempo, ante que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças,
e ao semblante a graça!
Os séculos XV e XVI foram marcados por modificações que marcaram a transição da idade Média para a Idade moderna, tais modificações decorreram dos seguinte acontecimentos : Renascimento, Revolução Comercial, a ascenção da burguesia, a formação dos Estados nacionais e o Absolutismo.
No entanto, o desvencilhamento definitivo do mundo medieval ocorreu somente no século XVIII, pois embora o mercantilismo já estivesse em voga, a estrutura social se mantinha a mesma.
Este quadro muda no século XVIII, pois neste período a burguesia ascende como classe social de prestígio e comanda a economia do país, enquanto a aristocracia e a nobreza iam perdendo espaço. Neste contexto, a burguesia começa a reivindicar o poder político, não se conformando apenas com o poderio econômico.
O Iluminismo foi o movimento intelectual que rejeitava o autoritarismo vigente no absolutismo e dava espaço à burguesia, visto que suas idéias tratavam da democracia e igualdade social, logo, garantiriam o direito de todos participarem do cenário político do país. Outra instutuição que se chocou contra o Iluminismo foi a Igreja, esta que já vinha sofrendo uma decadência constante, acabou tendo suas teorias dogmáticas (a fé), contextadas pela vontade de comprovação científica que se volta para a razão, item existenta na "filosofia das luzes".
A principal expressão do pensamento Iluminista foi a Enciclopédia. Dentre os principais filósofos deste movimento, temos: Voltaire, Montesquie e Rousseau.
Desta forma o Arcadismo se estabeleceu como expressão artística da burguesia, e valorizou a razão, por seguir os ideais Iluministas e a tendencia racionalista vigente na época. O racionalismo é uma herança do período classico, brevemente mencionado nesta coletânia. Foram a tais modelos que os árcades se apegaram, pois ofereciam algo distinto da filosofia cristã da qual estavam fugindo.
Processa-se um retorno ao universo de referências clássicas, que é proporcional à reação antibarroca do movimento. O escritor árcade está preocupado em ser simples, racional, inteligível. E para atingir esses requisitos exige-se a imitação dos autores consagrados da Antiguidade, preferencialmente os pastoris. Diz um árcade português:
O poeta que não seguir os antigos, perderá de todo o caminho, e não poderá jamais alcançar aquela força, energia e majestade com quem nos retratam o formoso e angélico semblante da natureza.
Logo, só a imitação dos clássicos asseguraria a vitalidade, o racionalismo e a simplicidade da manifestação literária. Deduz-se daí que a natureza - principal elemento de sua estética - não é a dos poetas do período, e sim a natureza das Éclogas de Virgílio e dos Idílios de Teócrito, os dois autores mais imitados pelos árcades.
Observe-se, também, a contínua utilização da mitologia clássica. Esta mitologia, que era um acervo cultural concreto de Grécia, Roma e mesmo do Renascimento, agora se converte apenas num recurso poético de valor duvidoso. Mais outra convenção, tornada obrigatória pelo prestígio dos modelos antigos. A todo momento nos deparamos com deuses e deusas que não têm significado histórico, e tampouco artístico porque suas imagens já foram desgastadas pelo uso excessivo. Eventualmente sobra algum encanto na fantasia mitológica, como nestes versos de Marília de Dirceu:
Pintam, Marília, os poetas
a um menino vendado,
com uma aljava de setas,
arco empunhado na mão;
ligeiras asas nos ombros,
o terno corpo despido,
e de Amor ou de Cupido
são os nomes que lhe dão.
A idealização da vida natural provém do pensamento de Jean-Jacques Rousseau, que acreditava que o homem nascia puramente bom e se corrompia no convívio social, levou o homem a pensar que os indivíduos que viviam na selva ou nos campos, longe do convívio social, seriam puros, diferente do homem que vivia nas cidades. Tais idéias inspiraram o bucolismo e o fugere urbem que retratam a valorização da vida no campo, que posteriormente, seria amadurecida no mito do bem selvagem pertecente ao Romantismo, que estudaremos em seguida.
No exemplo abaixo, de Tomás Antônio Gonzaga, percebemos que o mundo pastoril é apenas um quadro convencional para o poeta refletir sobre o sentido da natureza:
Enquanto pasta alegre o manso gado,
minha bela Marília, nos sentemos
à sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
na regular beleza,
Que em tudo quanto vive nos descobre
A sábia natureza.

Esta aproximação com o natural se dá por intermédio de uma literatura de caráter pastoril: o Arcadismo é uma festa campestre, representando a descuidada existência de pastores e pastoras na paz do campo, entre ovelhinhas. Porém, essa literatura pastoril não surge da vivência direta da natureza, ao contrário do que aconteceria com os artistas românticos, no século seguinte. Pode-se dizer que uma distância infinita separa os pastores reais dos "pastores" árcades. E que sua poesia campestre é meramente uma convenção, ou seja, uma espécie de modismo de época a que todo escritor deve se submeter.
Sendo assim, estes campos, estes pastores e estes rebanhos são artificiais como aqueles cenários de papelão pintado que a gente vê no teatrinho infantil. Não devemos, pois, cobrar dos árcades realismo do cenário e sim atentar para os sentimentos e idéias que eles, porventura, expressem.

Outro ideal que se contribuiu para a construção da imagem do Arcadismo foi o culto à liberdade, que a priori, foi refletido na liberdade existente nos campos, mas que ainda não significou, fortemente, a liberdade formal.

O Carpe Diem é expresso neste movimento, pois neste momento histórico, o homem tinha mais consciência da efemeridade da vida, além de ter se tornado livre dos dogmas da Igreja que o faziam se abster; assim, ao invés de esperar ir para o céu a fim de ter uma vida feliz no paraíso, o homem começou a tentar aproveitar a vida na terra.
O racionalismo do qual o movimento estava revestido inspirou o convencionalismo amoroso, que consistia em um amor plácido, sem os conflitos vivdos na poesia seiscentista.

A constante e obrigatória utilização de imagens clássicas tradicionais acaba sedimentando uma poesia despersonalizada. O escritor não anda com o próprio eu. Adota uma forma pastoril: Cláudio Manuel da Costa é Glauceste Satúrnio, Tomás Antônio Gonzaga é Dirceu, Silva Alvarenga é Alcino Palmireno, Basílio da Gama é Termindo Sipílio.

A renúncia à manifestação subjetiva faz parte do "decoro e da dignidade" do homem virtuoso. O poeta deve expressar sentimentos comuns, genéricos, médios, reduzindo suas criações à fórmulas convencionais. O conteúdo passional, a impulsividade e o frenesi íntimo, que costumamos ver no amor, são dissolvidos em pura galanteria, isto é, a paixão normalmente transforma-se num jogo de galanteios.
"Quando o poeta declara seu amor à pastora, o faz de uma maneira elegante e discreta, exatamente porque as regras desse jogo exigem o respeito à etiqueta afetiva. Assim, o seu "amor" pode ser apenas um fingimento, um artifício de imagens repetitivas e banalizadas."

 

 
 
 
 
   
 
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